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Especialistas apontam soluções para minimizar enchentes nas cidades

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Existem técnicas sustentáveis que podem ajudar a resolver o problema. As chuvas de janeiro já castigam os goianienses

Wéber Félix e Dayse Luan - Comunicação Sem Fronteiras

02 de fevereiro de 2021

As grandes metrópoles estão, novamente, em alerta por conta do período chuvoso. As fortes chuvas trazem uma quantidade grande de água em um só momento, mas elas não conseguem ser absorvidas na mesma velocidade pelas superfícies urbanas, grande parte impermeabilizada, fazendo acontecer as enchentes. Mesmo em Goiânia, uma capital jovem, o problema já é uma realidade. Nos últimos dias, a cidade foi castigada com alagamentos, como vem acontecendo em outros janeiros. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia, Inmet, nos primeiros 15 dias de janeiro, deste ano, já choveu 83% da quantidade prevista para todo o mês. Nessa primeira quinzena, choveu 205,8 mm do acumulado previsto para janeiro que é de 247,8 mm.

Diminuir a velocidade do escoamento das águas é o grande desafio para a drenagem urbana. O alto índice de impermeabilização da capital já compromete esse fluxo. Especialistas em planejamento urbano apontam soluções que podem ser implementadas para ajudar na infiltração da água no solo. 

Uma solução que pode ser implantada nas cidades são as bacias de contenção. Segundo o engenheiro Raphael Gualberto, elas são reservatórios com uma tubulação de saída de fundo de diâmetro menor do que a da galeria que lança a água de chuva na bacia, a qual tem a função de regulação da vazão da água de chuva até o córrego mais próximo. Ele exemplifica com a bacia feita na área verde do loteamento Jardim Alta Vista, em Trindade.

“A tubulação tem 1,5 metro de diâmetro chegando na bacia e sai da bacia e lança com 0,4 metro de diâmetro no córrego. Com isso, o escoamento chega com menor vazão no manancial, além de ser absorvido naturalmente”, explica ele, que está coordenando, nesse momento, a implantação da rede de drenagem das águas pluviais, dimensionada com base em estatísticas de chuvas e índices de permeabilidade.

O futuro bairro, em implantação na região do Trindade 2, receberá cerca de 800 famílias. Raphael chama atenção também para a importância da consciência dos futuros moradores, que não devem impermeabilizar todo o quintal, evitar jogar lixo nos bueiros, entre outras práticas, para manter a permeabilidade do solo. “Essa é uma responsabilidade do cidadão também. A infraestrutura é importante mas, sem as boas práticas, elas se tornam ineficientes”, diz.

Swales

Com mais de quatro décadas de atuação, a arquiteta e urbanista Luci Costa explica que a impermeabilização das cidades está diretamente conectada ao crescimento urbano desordenado, porém não há mais espaço para projetos nas cidades que não estejam alinhados com o meio ambiente e com uma vida sustentável. “A urbanização é um processo inevitável, mas deve ser planejada para que haja espaços que absorvam a água das chuvas. Se não houver o controle e todos os solos forem pavimentados, os alagamentos se tornarão problemas anuais”, diz.

Ela explica que cada edificação precisa contemplar alguma área verde. Além disso, cada morador tem que se conscientizar e não jogar lixo no chão. “Essa sujeira contribui para o agravamento do problema. Tem que ser um trabalho do poder público em união com os goianienses. Isso não é projeto futuro. É projeto do agora”, argumenta a arquiteta que já implementou muitos projetos com esse conceito, nos 48 anos de atuação no mercado brasileiro.

Ela cita outra solução de infiltração de água no solo são os swales, que podem ser implantados em áreas de fundo de vales, praças e em novos bairros. “O swale se resume na construção de uma vala em um terreno para que a água da chuva escoe e seja represada. Aos poucos ela é absorvida pelo solo. A técnica é um recurso da engenharia que se destaca pela facilidade de execução e pela eficiência na absorção da água pelo solo”, explica a  arquiteta, Luci Costa.

Inspirada nas plantações em curva de nível, a técnica australiana dos swales já vem sendo utilizada há muito tempo em vários projetos de habitação horizontal. “Dependendo da topografia do terreno, as valas podem ser construídas em praças, canteiros centrais de avenidas, às margens de rodovias e até mesmo em espaços pequenos, como nos quintais das casas das pessoas, em condomínios horizontais ou nos loteamentos tradicionais", comenta. Um exemplo de empreendimento que contempla a técnica do swales é o Escarpas Eco Parque, que está em construção em Abadiânia.

 

Plantar Água

Outra iniciativa em prol da absorção das chuvas foi implantada no Condomínio Aldeia do Vale, em Goiânia. Ele possui um sistema com 11 bacias de contenção e caixas de infiltração para captar as águas pluviais e fazer com que elas retornem ao solo, para alimentar o lençol freático. “Elas são de extrema importância, pois mitigam o efeito da enxurrada. Sem isso a força da água é maior, até pela nossa topografia, e ela acaba indo embora, sem penetrar no solo e até assoreando nossos lagos”, destaca o presidente da Associação dos Amigos do Residencial Aldeia do Vale (Saalva), Ovídio Palmeira.

Ele destaca ainda que no fundo das bacias são colocadas as caixas de infiltração, para facilitar a penetração da água no solo [mas em baixa velocidade] e não deixar que ela fique empoçada por muito tempo. Elas são buracos de 1,5m x 1,5m feitos nos fundos das bacias e formados por várias camadas de pedras, das maiores para as menores. “Isso é feito até se chegar na brita. Depois colocamos areia e vegetação e com o tempo ela fica disfarçada no local. Nós chamamos esse sistema de Plantar Água. Aqui no Aldeia, além de uma extensa área verde onde plantamos árvores, também plantamos água. Na medida que aumenta nossa urbanização, aumentamos a quantidade de bacias de contenção”, salienta Ovídio.

Ele explica que o projeto, que começou a ser implantado em 2015, inclui também as curvas de nível, uma outra solução para a permeabilidade do solo. “Elas são parecidas com as bacias de contenção. A diferença entre elas é que a curva de nível tem a função de diminuir a velocidade da enxurrada, enquanto a bacia contém e infiltra a água no solo”, explica Ovídio, que já foi diretor de meio ambiente do condomínio e acompanhou de perto a implantação.

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Imagem aérea do Residencial Aldeia do Vale - Studio OnzeOnze

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