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Ainda hoje os automóveis ditam a ocupação urbana, deixando as cidades muito mais preparadas para os carros do que para as pessoas. Mas com um melhor planejamento, podemos mudar essa realidade
Paulo Renato Alves
2 de junho de 2021
Faria sucesso a invenção de um meio de transporte que gerasse um milhão de mortes por acidentes ao ano e outros sete milhões de óbitos anuais pela poluição do ar? Pois bem, essa máquina já existe e sim até hoje faz um grande sucesso, e ao longo de décadas moldou o espaço urbano nas cidades do mundo. Falo do automóvel. Devo, antes de mais nada, admitir que a brilhante indagação não é minha, mas do urbanista e professor da UFMG Roberto Andrés. Mas permito fazer uso dela para refletirmos e pensarmos fora da caixa, ou melhor, fora do carro.
Ainda hoje os automóveis ditam a ocupação urbana, deixando as cidades muito mais preparadas para os carros do que para as pessoas. Viadutos, auto estradas, asfalto e mais asfalto, enquanto áreas verdes e espaços de convivência e lazer são reduzidos. Claro, não vamos negar a importância econômica da indústria automobilística, que também modelou o nosso comportamento e cultura. Mas a que preço? Novas gerações já fazem essa conta.
Pesquisa da consultoria empresarial Deloitte, feita em 2019, revela que 56% dos jovens brasileiros das gerações Y e Z consideram “dispensável” ter um automóvel. Eles começam a entender que ter um “carrão” na garagem não é mais sinônimo de status, mas motivo de preocupações com custos de manutenção, seguro, impostos e uma fonte de poluição ambiental. Aliás, pra quê garagem? Planos diretores de cidades como São Paulo já preveem a não obrigatoriedade dessas vagas para empreendimentos construídos a 300 ou 400 metros de uma estação do metrô. A capital paulista, inclusive, já conta com residenciais inteiramente sem vagas para carros.
Com sua revisão atrasada e ainda sendo discutida, o Plano Diretor de Goiânia traz algumas propostas interessantes, como incentivo às fachadas ativas, que agregam aos térreos de prédios residenciais, lojas ou mesmo pequenos malls, para fortalecer o comércio local e ao mesmo tempo evitar o uso do carro. Mas exigir vagas de estacionamento para essas fachadas ativas acaba sendo um contrassenso, se o objetivo é estimular a caminhabilidade saudável. O novo plano também prevê o adensamento junto aos corredores viários. Nada contra, essa é uma tendência de modernos centros, mas obrigar os novos prédios a dispor de vagas de garagens para todas suas unidades também vai contra o objetivo de tirar os carros das ruas.
Um ideal para esse humilde e observador urbanista é que Goiânia adote o interessante conceito de “Cidade de 15 minutos”, onde a organização do espaço urbano é feita de forma que o morador consiga fazer praticamente tudo à uma caminhada de no máximo 15 minutos. Paris é um exemplo, e a partir de um melhor planejamento, descentralização de serviços, bens, e novas leis de zoneamento, que retiram os carros das ruas e abrem espaço para pedestres e ciclistas, começa a mudar a realidade de seus bairros. Se é possível implantar tal ideia em Goiânia? Se pensarmos fora do carro, com certeza.
*Paulo Renato Alves é arquiteto e urbanista, sócio da Norden Arquitetura
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