Em um mundo cada vez mais dinâmico e marcado por transformações, os problemas psicossociais têm aumentado e ignorá-los podem resultar em agravamento das condições de saúde dos trabalhadores e afetar o desempenho em suas funções profissionais. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o estresse está entre os maiores responsáveis pelos problemas de saúde relacionados ao trabalho, afetando cerca de 40 milhões de pessoas. Cerca de 50% a 60% dos dias de trabalho perdidos estão relacionados a essa condição.

Diante desse cenário, algumas empresas têm desenvolvido estratégias e projetos para atender colaboradores que tenham algum problema psicossocial. É o caso da Consciente Construtora e Incorporadora, que lançou recentemente o projeto Social nas Obras. De acordo com o coordenador de responsabilidade socioambiental da construtora, Felipe Inácio Alvarenga, o projeto busca propor diálogos e espaços humanizados para dar apoio e estabelecer vínculos de confiança e respeito entre os colaboradores.

“O projeto tem o intuito de desenvolver formas inovadoras de cuidado com destaque para uma escuta ativa e qualificada com os colaboradores. O objetivo é proporcionar um espaço harmonizado de assistência e acolhimento focado na cidadania e na defesa dos direitos de cada colaborador”, afirma o coordenador. 

O atendimento no canteiro de obras é feito de maneira individualizada. Além de todo o apoio, os colaboradores são encaminhados para atendimentos especializados e recebem orientações socioassistenciais.

Felipe detalha que a ideia do projeto começou ao perceber que a maioria dos trabalhadores da construtora é de outros estados. Segundo levantamento da empresa, mais da metade dos trabalhadores (51%) são imigrantes do Nordeste e 17% são da região Norte. Apenas 31% dos colaboradores da construtora são da região Centro-Oeste. De acordo com levantamento do Sindicato da Indústria da Construção de Goiás (Sinduscon-GO) e do Senai de 2011, a maioria dos migrantes da construção civil em Goiás são do Norte ou Nordeste, sendo que só a região do Agreste responde por 36%.

Para ele, esse processo de separação do colaborador de suas raízes gera uma experiência de desamparo, o que pode resultar em sofrimentos psíquicos e físicos. “Além disso, quando eles chegam aqui, encontram algumas dificuldades básicas. A proposta é fazer com que esses colaboradores tenham um encontro e uma conversa aberta com uma assistente social que irá entender o que eles estão de fato precisando para depois indicar o atendimento que eles realmente necessitam”, afirma o coordenador.

Além de auxiliar quem chega recentemente de outros estados, o projeto também auxilia aqueles que já vivem em Goiás. O armador Adimilson Moreira, natural de Uruaçu, e que trabalha há 10 anos na Consciente Construtora. Ele buscou o atendimento do projeto e conseguiu auxílio para marcar consultas para oftalmologia e clínica geral para ele e a família sem custo, pelo Serviço Social da Indústria da Construção (Seconci Goiás), instituição mantida por meio de contribuição das empresas, e odontologia pelo Sesi.

“É uma iniciativa positiva porque muitas vezes ficamos perdidos sem saber o que fazer e, em algumas situações, temos dificuldade para encontrar ajuda. Com esse momento que temos durante o trabalho, conseguimos nos abrir e buscar auxílio para resolver nossos problemas”, destaca o armador. 

Outros atendimentos

Admilson ainda afirma que o projeto Social nas Obras não foi a primeira iniciativa que o auxiliou, já que ele também participa do projeto Escola na Obra. “Percebemos esse cuidado com os trabalhadores. Eu não tive oportunidade de estudar porque tive que começar a trabalhar com 15 anos. Foi por meio desse tipo de atenção na empresa que me orientou a retomar os estudos, que tenho a possibilidade de crescer profissionalmente”, completa o armador.

Por meio de parcerias com o Serviço Social da Indústria (Sesi) e o Serviço Social da Indústria da Construção do Estado de Goiás (Seconci Goiás), a Consciente ainda planeja a realização de palestras trimestrais sobre assuntos que atingem os trabalhadores da construção civil, como saúde do colaborador e questões socioemocionais.

“Com toda essa ação, pretendemos que a Consciente seja um espaço de felicidade, bem-estar, engajamento e produtividade. A empresa trabalha e dá muito valor ao tema da responsabilidade social e vamos ajudar os trabalhadores com o que eles realmente estão precisando”, explica Alvarenga.

Ainda pelo projeto, a construtora também dá suporte para os filhos dos colaboradores que estão em busca de inserção no mercado de trabalho. É o caso da estudante de Pedagogia, Nalanda Costa dos Anjos, 18, que busca o seu primeiro emprego. “Meu pai me contou essa novidade e me perguntou se eu tinha interesse. Como ainda não tive essa experiência profissional e tenho vontade de trabalhar em escritório, busquei a ajuda”, destaca a estudante. “Eu vejo como uma grande oportunidade porque a maioria dos empregos pede experiência, algo que eu ainda não tenho”, completa.

De acordo com a assistente social da construtora, Flávia Oliveira, Nalanda já está no banco de dados da empresa para participar de seleções como jovem aprendiz. “Além disso, passamos todas orientações para que ela consiga essa oportunidade, como dicas para preenchimento do currículo e o posicionamento adequado durante entrevistas de emprego”, explica a assistente social.